
Estou sentada em minha mala, que teima em não fechar.
Quardei meus sonhos, desejos, frustações, ilusões, desilusões, pensamentos, sofrimentos e meu amor.
Estou de partida desse quarto para a vida.
Deixo tudo que julgo não ser necessário.
Durante muito tempo dividi meu espaço com todas as imagens de tudo que eu quis viver. Nesse quarto minha vida foi passando devagar.
O estado que me encontrava não me deixava reagir ao negativismo imposto pelas fases de dor que minha alma passou, e ainda, passa.
Nesse quarto, olhava as coisas ao meu redor e não percebia suas cores. Era tudo cinza, tudo triste. Utilizei minhas lágrimas, para regar minhas flores, que hoje, morreram com o veneno da tristeza das gotas negras que saíam de meus olhos.
Chorei e choro a dor que mora em meu peito e me rasga a alma. Sofro pelo momento tão desejado, e não alcançado.
Dor e Sofrimento. Minha vida, em tom de cinza, tem assim passado.
Melancolia.
A ausência que dói.
O sofrimento de existir no vazio.
Estado em que a alma senti-se presa ao mundo, onde não devia estar.
Nesse quarto, minha melancolia foi amiga e inimiga. Me fez companhia nas noites em que ninguém me escutava. E me disse algumas verdades incomodas, que só amigas de verdade são capazes de dizer. Me mostrou caminhos que nunca ousei percorrer.
Agora, deixo minha melancolia-amiga, e tenho que ir embora. Para nosso bem, tenho que deixa-la partir e ela deve fazer o mesmo por mim.
Com minha mala, que agora está bem fechada, vou embora.
Não antes de dar uma última olhada no espaço vazio e em tom de cinza.
Não antes de passar a vista na janela.
Não antes de derramar minhas lágrimas negras no chão.
Saio do quarto. Fecho a porta. E jogo as chaves fora.
Para nunca mais voltar para a melancolia.
