sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Escravos do tempo

Todo dia a insônia me convense que o céu faz tudo ficar infinito.
Com essa frase clássica do Barão Vermelho começo minhas reflexôes noturnas.
Em meu congelamento voluntário, em meio a neblina dos meus pensamentos sonhei com um sonho.
Sonhei que andava em uma rua vazia de movimento.
Ao final da rua avistei uma senhora, me aproximei e perguntei:" que horas são?".
Ela olhou para mim e disse mais ou menos assim:

"Hora? Medição do tempo.
Tempo? Afinal, o que é tempo?
Dias. Semanas. Meses.
Tudo passa rápido. E as vezes custam a passar.
Olhe para mim. Sou uma senhora, na semana passada eu era uma jovem andando de bicicleta no parque.
Espere... Faz mais tempo que isso.
O tempo, minha querida, o tempo é relativo.
Isso quer dizer que o tempo existe então.
E onde ele está?
No espaço?
No meu rosto?
Com certeza no meu rosto.
Pra que rélogio, minha querida?
A sensação de saborear o momento sem a preocupação que ele acabe é simplesmente magnífica.
Saborear. Degustar. Digerir.
Querida as pessoas se preocupam demais com o tempo, estão acorrentadas a ele por seus pulsos.
E o pulso não pulsa apenas, faz tic-tac!
Hora para acordar, comer, estudar, trabalhar, dormir...
E nisso o tempo passa.
As 24 horas diárias se transformam em 12. E todo dia é a mesma coisa.
Quantas vezes você já não pediu umas horinhas a mais?
Esqueça!
A função do tempo é nos aprisionar, nos oprimir, nos castrar os desejos.
Simplesmente por falta de tempo.
Algumas vezes consegue me soltar desta corrente.
Incrível. Liberdade. É isso que se tem. Liberdade.
Tente.
Você pode pensar que é impossível. Que precisamos desesperadamente de algo para nos guiar.
Tente. Não é para a vida toda. São apenas algumas horas. Fica a seu critério.
Tente, querida, tente enquanto é tempo..."

Meu despertador tocou.

2 comentários:

  1. Jana, isso foi um sonho ou foi uma anja que veio lhe tirar do conforto da mesmice???
    Eu adorei seu texto, viu?
    E acho que nos atemos ao tempo como proteção, exatamente contra a tal liberdade tão deliberadamente sonhada e tão subjetivamente temida. E assim, nos tornamos escrav@s: do tempo, da luta contra o tempo e escrav@s da luta em prol das quebras das correntes (luta, a qual, eu diria intransponível).
    Ou então, minha escravidão já me cegou ao ponto de eu amar as correntes e nem sequer consiga vislumbrar a possibilidade de estar longe delas. Pelos menos, meu relógio não sai do pulso. Pode ser isso.
    Por outro lado, imaginar um dia sem hora (marcada) pra fazer nada, me parece bem prazeroso, bem relaxante, tranquilo...
    Lembrei do filme "Doce Novembro"... lembra da loucura do cara, quando a mulher resolve tirar toda forma de comunicação e de contagem de tempo dele? Ele quase enlouquece...
    Sei lá... vou pensar mais sobre essa ( mais essa ) escravidão.

    Bjs!!
    Hévellyn

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